From Diario de Sao Paulo:
vôlei 05/04/2011 22h59
Ato de coragem: Jogador do Vôlei Futuro assume ser homossexual e reacende o debate sobre o preconceito no mundo do esporte profissional
José Eduardo Martins e Marta Teixeira
DIÁRIO SP
Sem medo de cara feia, o meio-de-rede Michael tomou uma atitude corajosa. O jogador do Vôlei Futuro rebateu as provocações da torcida adversária e assumiu a sua opção sexual.
"Sou gay. Todo mundo aqui sabe. Lógico que nunca cheguei a assumir. Todo mundo sabe quem eu sou. Eles me respeitam totalmente no time. Não só aqui, mas nos 10 anos que joguei no São Bernardo. Todos os times me trataram bem", afirmou Michael, em entrevista ao site "Globoesporte.com".
Durante a primeira partida da série semifinal da Superliga Masculina entre a equipe de Araçatuba e o Cruzeiro, em Contagem, o jogador foi alvo de chacota do público mineiro.
"No jogo em Contagem, houve uma manifestação da torcida gritando ?gay?. Já tinha acontecido casos isolados de algumas pessoas gritarem, pelo clima do jogo. Nem escuto, deixo passar, porque é ignorância. Mas foi um coro: senhoras, crianças e mulheres gritando, já num clima preconceituoso mesmo", disse o atleta.
A segunda partida da série melhor de três será neste sábado, às 10h, em Araçatuba. Os mineiros precisam de uma vitória para garantir a classificação para a decisão.
Passado nebuloso/ São poucos os casos de atletas que assumiram a sua orientação sexual. Em 1999, o também jogador de vôlei Lilico revelou ser homossexual. Vítima de um preconceito velado, ele não foi convocado para a Olimpíada de Atenas, em 2000, e abandonou prematuramente a carreira em 2005. Aos 30 anos, em 2007, ele morreu vítima de um AVC, acidente vascular cerebral.
Corajoso, Michael espera ter melhor sorte e não teme o preconceito, seja da torcida ou dos colegas de profissão. "Se tiver um efeito reverso, pelo menos estou fazendo algo para mudar. Pelo menos não me calei diante dessa situação. Não gostei do que houve comigo e não gostaria que acontecesse com ninguém", disse o jogador, que recebeu o apoio de seus colegas. "Muita gente ficou sensibilizada e veio falar comigo", conta o meio-de-rede de 27 anos.
O Vôlei Futuro encaminhou ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva e à Confederação Brasileira de Vôlei um relatório sobre as provocações da torcida mineira. O Cruzeiro emitiu um comunicado de repudio à homofobia, mas assumiu a provocação da torcida.
"É uma situação pela qual eu nunca havia passado na minha vida. Mesmo em vários anos atuando na Itália, nunca ouvi tantas ofensas dirigidas a um jogador", afirma Ricardinho, levantador do Araçatuba.
"É normal o público provocar, eu mesmo fui vítima de xingamentos. Joguei com poucos homossexuais. Todos estavam integrados ao time e ninguém foi vítima de preconceito", pondera o ex-jogador Nalbert, que estava no ginásio em Contagem e atuou em clubes ao lado de Lilico e Michael.
Agora, resta saber como o mundo do vôlei vai reagir para que não se repita o triste filme da história de Lilico.
Opinião
Érico Santos, Presidente do Comitê Desportivo GLS Brasileiro (CDG Brasil)
'Foi um passo importante para o esporte'
Eu elogio muito a postura do Michael, pois ainda hoje, no Brasil, esta é uma situação delicada. Ela envolve a parte financeira da equipe e a reação das pessoas próximas do atleta. A atitude que ele teve foi importante para que a homossexualidade deixe de ser vista como um bicho-papão. É uma ação que oferece visibilidade positiva à causa e ao esporte.
No passado, nós tivemos o Lilico, o primeiro a se posicionar em relação ao assunto. Graças a ele, muitas pessoas abriram suas mentes para este assunto que precisa ser debatido na sociedade. É por isso que a atitude do Michael é muito positiva para o esporte. Não apenas o esporte brasileiro, mas o mundial.
Eu acredito que as reações em relação a ele serão diferentes das registradas na época do Lilico porque vivemos um momento diferente na sociedade.
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